Foto: Reprodução |
A presença do secretário estadual de Segurança Pública, Alfredo Gaspar de Mendonça, com equipes de filmagem e a utilização constante do helicóptero da polícia nas operações rotineiras de blitz em rodovias, de fiscalização do cumprimento de decreto emergencial para conter festas, folia de carnaval e aglomerações tem sido criticada por deputados e policiais civis.
O Sindicato dos Policiais Civis de Alagoas (Sindpol) considera as operações como “espetacularização”, com pouco efeito prático no combate à violência. Os parlamentares afirmam que a aeronave é ferramenta fundamental para as operações complexas de combate ao crime organizado e não pode ser usada “como veículo de passeio”.
Vídeos que circularam pelas redes sociais mostram o helicóptero da Segurança Pública aterrissando em rodovias estaduais, em áreas urbanas, e assustando a população com voos rasantes até em áreas nobres de Maceió. Em alguns dos vídeos, aparece o secretário descendo da aeronave.
Em meio às críticas dos deputados, dos policiais e do sindicato, a Gazeta fez as seguintes perguntas para o titular da SSP: Secretário Alfredo Gaspar de Mendonça, quanto custaram as operações coordenadas pelo senhor com a utilização do helicóptero da SSP?; Com relação ao deslocamento de equipes de filmagem que documentaram as operações, os custos são da SSP ou da Secretaria de Comunicação Social do estado e/ou particular?; Quanto custou a documentação cinematográfica?; Nos custos operacionais com deslocamento do helicóptero, estão incluídas as despesas com equipe de filmagem?; Os deputados consideram que essas operações rotineiras apresentam poucos resultados práticos e constrangem a população. Como o senhor responde às críticas?; Eles avaliam as operações como parte de campanha eleitoral para o próximo ano. O senhor será candidato nas eleições gerais de 2022?; Os policiais civis avaliam que, com o dinheiro gasto nessas operações (“espetáculos”), poderia se investir mais na recuperação de delegacias e na infraestrutura operacional da própria polícia. Como o senhor avalia a sugestão do Sindpol que, também, cobra concurso público?
As informações divulgadas, recentemente, pela própria assessoria de comunicação da SSP, confirmam as “operações” que “constrangeram” parte da população. Uma das ações ocorreu no último dia 13, nos municípios de Pão de Açúcar, Belo Monte, Traipu, Arapiraca, São Sebastião, Piaçabuçu, Penedo, Feliz Deserto e Coruripe.
Policiais civis e militares, sob supervisão do secretário Alfredo Gaspar, realizaram bloqueios e abordagens em rodovias, para tentar impedir a circulação de drogas e armas, além de combater a criminalidade.
O próprio secretário justificou a presença dele na operação. “A Segurança Pública está agindo de forma educativa e conscientizando a população da necessidade de respeitar o decreto estadual. É muito importante impedirmos a disseminação desse vírus, que já vitimou tantas vidas”, disse ele.
Parlamentares cobram menos 'espetacularização'
As blitze em rodovias e fiscalizações das medidas de distanciamento social, com o envolvimento direto do secretário de Segurança Pública, Alfredo Gaspar de Mendonça, utilizando o helicóptero, repercutem, até, entre os deputados da bancada governista da Assembleia Legislativa Estadual (ALE).
A maioria é a favor do combate à violência, já que Alagoas ainda está entre os dez estados mais violentos do País. Também é o que mais reduziu a violência na comparação com 26 estados. Os parlamentares, todavia, destacam que, no ano passado, a Polícia Civil teve orçamento de R$ 346 milhões e a PM de R$ 656,3 milhões e precisava de muito mais. Por isso, defendem otimizar recursos, conter desperdício de dinheiro público e mais investimentos na infraestrutura operacional.
O deputado policial operacional da PM, cabo Bebeto (PTC), avaliou que as operações simples e rotineiras com o secretário de Segurança utilizando o helicóptero não traz “bom” resultado para a tropa. Como exemplo, citou a recente operação em Jequiá da Praia.
“Houve a preparação na entrada da cidade com o helicóptero e cerca de 40 policiais numa cidade pequena. Ficaram lá uma hora e, depois, foram para a operação. Como conheço a tropa, conheço as operações, sei que, assim, o resultado prático é mínimo”.
Ao lembrar que o secretário Alfredo Gaspar disputou, no ano passado, a Prefeitura de Maceió e foi derrotado pelo então deputado federal JHC (PSB), lamentou. “Infelizmente, ainda não se desarmou o palanque eleitoral. Misturar política eleitoral com segurança pública é nocivo”.
Ao justificar, acrescentou que “estamos percebendo o uso, de forma descabida, do helicóptero. Esta é uma ferramenta importante para as operações fortes, de Inteligência da SSP, para socorro e dar resposta rápida em diversas ações. É ferramenta cara para o estado, tem uma finalidade específica, e o que se vê hoje são operações gravadas com equipes cinematográficas”.
O deputado quer saber quem está pagando a filmagem e o curso das operações. O parlamentar destacou como outro ponto negativo a operação que mobilizou o secretário e o helicóptero para prender, no condomínio de classe média alta [Aldebaran], um empresário acusado de tentativa de homicídio, na praia do Francês.
“Era uma operação fácil. Em poucos minutos a polícia cercava qualquer residência daquele condomínio. No entanto, usaram até a aeronave, voos rasantes e não prenderam ninguém [o acusado se apresentou]. Lamento. Percebo que estão querendo fazer filmes de ações policiais de pouco efeito prático no combate à violência”. Cabo Bebeto disse que “a polícia precisa deixar de ser política e voltar à função de polícia”.
A SSP divulgou os dados do Núcleo de Estatística e Análise Criminal (NEAC), da SSP, entre a sexta-feira de carnaval (12) e a Quarta-Feira de Cinzas (17). No carnaval cancelado, foram contabilizados 14 homicídios, além de um registro de feminicídio e duas resistências com resultado de morte.
Os dados apontam que houve redução de 59% em comparação ao mesmo período do ano passado, que teve carnaval. Conforme o NEAC, no carnaval passado, teve um total de 33 homicídios e um feminicídio. Os dados são tratados desde 2011, quando o Núcleo de Estatística foi criado.
Naquele ano, o carnaval contabilizou 53 mortes. O planejamento operacional deste ano teve foco em fiscalizações a pessoas e locais públicos, abordagens a veículos, além da verificação do cumprimento do decreto governamental sobre o enfrentamento a Covid-19, dentre outras estratégias de combate ao crime.
Mais de cinco mil integrantes das forças policiais foram empregados como reforço em todas as cidades alagoanas. A Polícia Militar disponibilizou 3.400 policiais e a Polícia Civil reforçou suas ações com 1.172 agentes de polícia, escrivães e delegados. O Corpo de Bombeiros atuou com 825 militares extras e a Perícia Oficial também empregou equipes para atuar em Alagoas.
ALE cobra menos 'espetacularização' — FOTO: Jonathas Maresia/Arquivo |
SUSTO NO AR
Outro que também não poupou críticas às operações “cinematográficas” com a aeronave da SSP foi o deputado Inácio de Loiola (PDT). “A gente está vendo operações sem sentido e descabida”.
O deputado citou como exemplo negativo as operações realizadas no Sertão, durante o carnaval, que não aconteceu. Segundo ele, as ações assustaram os sertanejos. “Uma dessas operações de blitz aconteceu na cidade de Pão de Açúcar. Teve pouco efeito prático. Deixou a população constrangida, e isto só onerou os cofres púbicos num momento em que o estado precisa economizar e fazer investimentos na infraestrutura da própria polícia”.
Loiola foi taxativo em afirmar que as operações comuns com o envolvimento direto do secretário são “sem cabimento. Não vejo justificativa convincente. São operações espetaculosas, de pouco resultado. Discordo, radicalmente, deste tipo de ação. A serventia é zero”.
Nos bastidores da ALE, deputados governistas que preferem o anonimato também criticaram, e se especulava a possibilidade de o Legislativo abrir procedimento para apurar as necessidades da utilização do helicóptero em operações rotineiras e gastos com equipes de filmagem. Dificilmente isto acontecerá.
Entre os 27 deputados, a maioria é da bancada governista. Entretanto, alguns governistas avaliaram as ações como preparativa de uma possível campanha eleitoral para 2022, quando haverá eleições gerais para presidente da República, governador, senador, deputados federais e estaduais.
Os deputados imaginam que Gaspar será candidato. Já o líder da bancada do governo, deputado Sílvio Camelo (PV), rebateu às críticas dos colegas. “Vejo com naturalidade a utilização de todas as ferramentas, das Polícias Civil e Militar, no combate à criminalidade”.
'Politicagem'
No balanço que fez a respeito das “operações espetaculosas” da Polícia Civil, coordenada pelo próprio secretário, Alfredo Gaspar de Mendonça, o presidente do Sindicato dos Policiais Civis, Ricardo Nazário, avaliou que “é uma tentativa de motivar os policiais insatisfeitos com as carências técnicas, operacionais e com salários defasados”.
Sobre a utilização do helicóptero nas operações, disse que a repercussão é negativa. “É ação de pirotecnia e politicagem com uma ferramenta importante da polícia”, lamentou. Para o líder dos 1,6 mil policiais civis, “o cenário técnico e operacional das polícias permanece carente, piora a cada dia com a maioria das 140 delegacias precisando de reformas e com os policiais insatisfeitos”.
Com relação às delegacias do Centro Integrado de Segurança Pública (CISP), considerou como “bom projeto”. Mas “hoje é exemplo do outro desperdício do dinheiro público”.
Ao explicar, disse que os CISPS custaram, em média, R$ 1,8 milhão. “Os imóveis são inseguros por conta das divisórias [de madeira prensada] e a integração entre as Policiais Civil e Militar precisa de aperfeiçoamento. “Os prédios com três meses de funcionamento apresentam problemas sérios, com teto caindo, no chão, e sucateamento generalizado”.
Nazário lembrou que, entre os 1,6 mil policiais civis, 600 já deveriam estar aposentados. “A falta de efetivo compromete a outra parte do combate à violência. O resultado dos inquéritos”. O líder sindical estimou que “cerca de 50 mil inquéritos estão parados nas delegacias por falta de efetivo para dar celeridade as investigações”. Avaliou, ainda, que os homicídios, roubos e outros crimes não reduziram. “O que o governo diz sobre redução da violência é fake news. A violência não para. Tanto que os homicídios se multiplicam”.
Sindpol avalia ação da SSP como 'politicagem' — Arquivo Gazeta |
Por: Arnaldo Ferreira, Portal Gazetaweb.com
0 Comentários