Se alguém, algum dia, fizesse esta pergunta, o que você responderia? Com certeza ficaria sem jeito em responder, porque, na maioria das vezes, não sabemos qual a diferença entre elas.

De modo geral, a música clássica compreende um estilo musical de característica europeia, composta entre 1750 a 1810. Poderíamos destacar alguns compositores deste período, tais como Haydn, Mozart e Beethoven. Composições de outros autores e épocas não podem ser consideradas clássicas.

Existem estilos variados de música que correspondem a outras épocas, como o Canto Gregoriano, entre os anos de 400 a 1450, o Barroco, de 1600 a 1750, em que se destacam compositores como Vivaldi e Bach e a época romântica, 1810 a 1910, com destaque para Chopin, Debussy, entre outros.

A música erudita, por outro lado, não se refere a nenhuma época em particular, mas a toda música de caráter mais intelectual e racional. A palavra erudito vem do latin, eruditus, termo utilizado quando se quer fazer referência a algo academicamente estudado.

Podemos dizer que tanto a música clássica, quanto a barroca e a romântica são eruditas. Agora que está clara a diferença entre o termo clássico e erudito, a próxima pergunta a ser feita é: “Você gosta deste tipo de música?”

Se você pertencer a um grupo seleto, responderá que sim, mas, em realidade, a maioria de nós não se interessa por este tipo de música. Isso não acontece por acaso, pois para se gostar de música erudita não basta colocar um CD, ouvir e respondermos se gostamos ou não.

A música erudita, diferentemente da música mais comercial, deve ser ingerida, degustada, digerida, analisada, pois é só assim nos sensibilizamos a ela.

A música com a qual estamos acostumados a ouvir é muito semelhante aos alimentos cheios de açúcar, de digestão rápida, encontrados nos fast-food. Comemos produtos muito estimulantes, na busca de um prazer instantâneo.

Nos dias de hoje, não é comum degustar o que comemos. Para isto, utilizamos a mente, como no caso de um bom vinho, que pode-se conhecer o ano e a safra em que foi produzido.

Como a maioria de nossas percepções está impregnada de emocionalismo e são realizadas pelo chacra gástrico, acabamos por não gostar de música erudita, bem como a música popular mais elaborada, como a de Egberto Gismonte e Hermeto Paschal.

É muito gostoso comer um hambúrguer, de vez em quando, mas não podemos nos restringir a este tipo de refeição. Temos que aprender a comer de tudo, extraindo o que cada alimento pode nos oferecer quanto ao sabor e a satisfação.

A música erudita, com característica predominante mental, é composta pelo intelecto. Em muitas, as notas se encaixam de forma tão harmônica, que podem ser tocadas tanto da direita para esquerda quanto da esquerda para direita da partitura.

Imagine escrever um texto de várias linhas e o leitor pudesse lê-lo tanto do começo para o fim quanto do fim para o começo, sem alterar o que está sendo dito! Isso, no mínimo, é genial! Algumas composições de Mozart podem ser executadas com a partitura de ponta cabeça, sem que a melodia seja alterada. “Jesus, alegria dos homens” é um exemplo desse tipo de composição. Quando ouvimos esta música, conseguimos abstrair o que é beleza e fazer uma tradução do seu significado.

Este é o poder da genialidade de uma música composta por um grande intelecto. Da Vinci também se utilizava destes recursos em suas pinturas. Os traços do rosto de Monalisa, por exemplo, possuem relações geométricas.

Quando olhamos ou ouvimos uma peça com tal brilhantismo harmônico, ninguém precisa nos dizer a forma com que foram construídas, pois a organização é captada por nosso mental, que conseque captar a ordem e traduzi-la em beleza.

A beleza nada mais é do que a expressão da harmonia, porém para captar a riqueza que possui uma música erudita ou as pinturas de Da Vinci, nosso mental terá que se abrir para esta realidade; só assim conseguiremos nos sensibilizar.

Ouvir músicas de Bach, Bethoven, Mozart pode nos tornar pessoas mais inteligentes, pois estaremos expondo nosso mental a um grau de organização muito grande e, sem que percebamos, isso refletirá na organização de nossos pensamentos. Já foi contatado que os alunos que estudam música acabam por melhorar suas notas, pois a ordem repercute no todo.

Hoje, assimilamos muito mais as músicas pela região do estômago, do que pelo coração e cabeça. Se nos limitarmos a esta faixa de percepção, nos tornaremos pessoas também limitadas, pobres de percepção. Os grandes nomes da música popular, e até mesmo comercial, se alimentaram e muito, da música clássica, barroca, romântica, entre outras.

Não devemos perder a oportunidade de apreciar nenhum tipo de música. Quando formos convidados a assistir a uma orquestra sinfônica ou um recital de piano, por exemplo, não devemos nos limitar, dizendo: “Eu não vou, porque não gosto.” Devemos nos dar a chance de expandir nossos sentidos.

Vá e dê vazão a sua criatividade, perceba as nuances, as cores, os timbres, o cheiro, as imagens que surgem em sua cabeça, feche os olhos, sinta a ordem, solte-se e deixe se levar por sentimentos que você até então não havia sentido, sem preconceito.

Para que a experiência seja mais interessante, procure ler sobre a história do compositor, suas características, sua forma de exepressar seu temperamento através da música e deixe surgir um mundo que você não sabia existir.

Muitas vezes, quando comemos algo muito estimulante e açucarado, perdemos o paladar perante ao que é sutil, achando, de forma equivocada, que este não é doce e não tem graça. Se algo aparentemente não nos interessa, devemos dar oportunidade a novos sabores. Assim não se limite, divirta-se e aproveite um bom espetáculo.


Extraído do IPE - Instituto de Pesquisas Evolutivas.