Além de tocar as pessoas por meio de uma mensagem ou ideologia, a música cumpre (também) uma função social de aprendizado. Por isso, muitas escolas vêm investindo nesta arte como método de ensino de crianças da educação básica.
Então, já dá pra perceber que temos aí (mais uma!) possibilidade profissional para o músico: a musicalização infantil.
“É o processo de construção do conhecimento musical, tendo como objetivo principal despertar e desenvolver o gosto pela música”, explica Marcos Paulo Barros.
Esse tipo de atividade ainda desperta nas crianças a criatividade, a percepção de sentidos, coordenação motora e a autoestima. Fora muitas outras vantagens que vamos abordar nesta matéria. 
Marcos explica que as principais atividades voltadas para crianças na musicalização são atividades de canto, dança e percussivas (usando instrumentos ou o próprio corpo). “Uso muito o violão, voz e bongô, pandeiro, surdos, maracas e outros instrumentos de percussão”, conta.
DESAFIOS
Para trabalhar com crianças, dois pré-requisitos são inerentes e óbvios: ter experiência com instrumentos musicais e, claro, gostar de trabalhar com crianças. Mas mesmo tomando “gosto pela coisa”, o dia-a-dia deste profissional é sempre desafiador. Ou seja, ponto para quem gosta de pensar fora da caixa e de se sentir desafiado no ambiente de trabalho.
“O principal desafio que eu vejo na rotina dessa profissão é realizar atividades que as mantenham entretidas e realmente interessadas no conteúdo. Criança perde o foco muito facilmente e isso acaba deixando alguns profissionais confusos. Muitos acabam realizando as atividades pensando apenas no entretenimento para que a criança goste do conteúdo, e acabam tornando aquilo que deveria ser aprendizado em recreação infantil, que são especialidades diferentes”, explica. Ou seja, saber dosar atividades entretidas sem esquecer do aprendizado é outro requisito fundamental.
Dica para quem vai começar: geralmente, as atividades que mais prendem a atenção das crianças são aquelas relacionadas ao canto, explica Marcos. “Quando pego o violão para tocar, elas já apresentam uma empolgação para participar. Isso é muito gratificante”, define. “Acho que elas gostam mais dessas atividades porque o canto é, de certa forma, mais comum e acessível. Nem toda criança tem facilidade com instrumentos”.
MUSICALIZAÇÃO X MUSICOTERAPIA
Por se tratar de uma atividade aparentemente semelhante, alguns podem confundir a musicoterapia com a musicalização. Porém, são duas atividades distintas: a musicalização trata especificamente do uso da música como elemento de ensino, enquanto o musicoterapeuta pode usar de técnicas semelhantes, mas com a função de reabilitar ou de tratar um paciente. Para entender mais sobre a musicoterapia, releia nosso especial sobre a profissão.
REALIZAÇÃO PROFISSIONAL
Deu pra sentir, né? Trabalhar com musicalização infantil é uma gratificação à parte, por ajudar as crianças a vencerem seus medos e a superarem suas próprias expectativas. Já pensou na gratificação de poder ver uma criança em contato com um instrumento pela primeira vez, e despertando desde cedo o seu amor pela música?
Em uma sociedade que ainda vê a música e outras artes como “menores” para o ensino, é importantíssimo que a criança tenha um profissional dessas áreas por perto.Ainda mais quando o trabalho é voltado para as periferias, que muitas vezes não têm a chance de ter esse tipo de contato com a arte. Imagina quantos talentos podem estar escondidos por aí, sem que a criança possa desenvolvê-los? Ou quantos caminhos e quantas portas podem se abrir para essas crianças através do contato com a música?
Além de todas essas vantagens, Marcos ainda aponta uma super interessante: a possibilidade de usar a música para vencer preconceitos.
Acredito firmemente que a música é uma forma de lutar contra esse preconceito. A música aflora o pensamento crítico do ser humano, que é algo que precisamos ter para não permitir que certas coisas continuem acontecendo em nossa sociedade. Se desde muito nova a criança for levada a pensar mais profundamente e ser mais crítico em seus pensamentos e decisões, acredito que formaríamos pessoas melhores
“Uma criança pode não se encaixar num certo padrão, e por esse motivo acabar sendo excluída e oprimida pelas outras crianças por não entenderem a singularidade de cada ser humano, e é aí que entra o papel social da música”, continua Marcos. “Se as crianças estão em uma situação de grupo, em uma orquestra ou big band, por exemplo, através do pensamento musical elas perceberão as diferenças de cada um, como a forma de tocar, o instrumento que toca, a abordagem musical, e dado ao pensamento crítico aflorado elas conseguirão enxergar essas singularidades musicais também na vida pessoal, evitando esse exclusão ou até mesmo opressão por não compreender as diferenças entre cada um. Consequentemente, elas se tornariam adultos muito mais compreensíveis e socialmente mais atentos”, frisa.
Também se apaixonou pela profissão depois dessa matéria? Então, fique de olho na formação: assim como todas as profissões voltadas para a música, é preciso estudar, e muito!
“O trabalho na música ainda é tratado por alguns de uma maneira bem informal, então, não é raro você ver um professor de música que não tenha graduação na área, o que não define a qualidade do profissional. Mas claro que a graduação é um diferencial e tanto”, aponta.
Várias capitais têm cursos de capacitação específicos para quem quer seguir na área de musicalização, em escolas, faculdades e conservatórios.
Fonte: CifraClubnews
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